A História em Quadrinhos aqui postada foi feita em 2005. Lembro-me da primeira vez em que peguei o telefone para ligar para o André Carneiro pedindo autorização para transformar seu conto em quadrinhos. Não o conhecia pessoalmente. André Carneiro era uma espécie de mito para mim. Desde muito jovem ouvia falar de seu talento e, principalmente, de sua inteligência. A primeira pessoa que me falou dessas qualidades foi meu pai, que o conhecia desde os tempos da Loja Recaredo (A Loja Recaredo pertencia ao pai do André e comercializava ferragens e ferramentas em Atibaia nos anos 50). Com o tempo fui conhecendo melhor seu trabalho e minha admiração aumentou muito. Penso que algumas histórias que ouvia ajudaram a alimentar essa ideia mítica a seu respeito. Uma delas era com respeito a casa onde morava: diziam conter compartimentos secretos, ou esconderijos, que usou no período da ditadura militar. Outra história era de que o André era hipnotizador, e realizava sessões com esse objetivo. Esses fatos instigaram minha infância e provavelmente influíram em minha ideia a seu respeito. André Carneiro é sem dúvida o maior artista que Atibaia já teve. Basta acionar o google para saber da abrangência de sua obra, e não só na literatura, onde além de poeta é um dos precursores da ficção cientifica no Brasil, mas nas artes plásticas, na fotografia e no cinema. Apesar de todas essas qualidades, André Carneiro é bastante acessível e tornou-se um amigo de que muito me orgulho. Quanto à história em quadrinhos, durante certo tempo trocamos e-mails e numa delas ele disse:”...Quanto ao seu desenho, incluindo a técnica, a expressividade, o jogo de equilíbrio estético em geral, posso afirmar sem favor que tem nível internacional. Isso é o mais importante. Você tem a "posse do instrumento", sabe pintar, como diria o Sérgio Milliet. Se um roteiro diz "mulher bonita" você desenha uma jovem bonita, o que pode parecer óbvio a um leigo, mas é uma raridade em uma banda desenhada. Retirei um roteiro de uma Editora porque o desenhista não sabia desenhar um nu. Ingênuos tentam pintar quadros abstratos ou cubistas, com a ilusão que são mais fáceis. Mas nenhuma "tapeação" semelhante o quadrinho permite. O sintetismo dele exige desenhista de categoria, como também a xilogravura para um gravador. Não há como enganar com rabiscos ou sombras. Por isso um roteiro meu que a Ruth Rocha tinha aprovado para uma nova revista da Abril (que não saiu) ela perguntou se eu faria, pelo menos um primeiro tratamento. Não fiz, não era e não sou capaz. Daria para você, mas não o conhecia na época”. Além de O Homem que Hipnotizava, também fiz um esboço do conto A Espingarda, tendo a sugestão do autor em determinadas ocasiões. As histórias não estão finalizadas. Trata-se apenas de um estudo preliminar. Essa primeira versão pintei com gouache e lápis de côr, mas pretendo melhorá-la utilizando modelo ou referência fotográfica assim que conseguir apoio, ou patrocínio, para editá-la. Afinal a responsabilidade é grande e viabilizar esse projeto é questão de honra. Para facilitar a leitura click na imagem.
PS - Depois que postei essa matéria, mandei um e-mail ao André comunicando o fato. Ele gentilmente respondeu:
Carissimo Zago
Voce, como eu já disse algumas vezes, é um legitimo artista colocando Atibaia na liderança de realizações artísticas. Os seus trabalhos, que estão pendurados em minha sala, sempre mostro a pessoas interessadas. Fiquei muito feliz de voce finaliza-las e me dizer que está com intenções de publica-las. Fico na torcida para que possa concretizar esse projeto brevemente. Seria absolutamente justo que os órgãos públicos apoiassem suas idéias. Fiquei muito honrado também com os elogios do seu texto, são manifestações desse tipo que dão força e alimentam a continuidade da nossa atuação.
Grande Abraço
ANDRÉ
ps - Um abraço para a Elsie, outra batalhadora incansável da cultura ao seu lado
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