sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Os quadrinhos de Alain Voss

Alain Voss foi um quadrinista de primeira. Na década de sessenta realizou O Careca, gibi cultuado (penso eu) muito mais pelo inusitado que envolveu a produção, que o trabalho em si. A versão que circula é uma edição fac-símile publicada pela Comix Club em 1995. Nela, na seção de cartas, Alain Voss informa ao editor Worney A. Souza as circunstancia da criação da revista. Diz ele que tudo foi realizado em um mês: Criação do personagem, roteiro e desenhos. Depois de tudo pronto e já impresso, a gráfica desistiu do projeto e destruiu toda a edição, de 8.000 unidades. Nem o próprio autor ficou com algum exemplar, mas alguém ficou, e a partir dele foi feito a versão fac-símile. Anos depois Alain Voss desenharia duas capas de discos para Os Mutantes: Jardim Elétrico, de 1971 e Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets, de 1972. Ambos de estilo marcadamente psicodélico, próprio da época.

















































Na década de setenta, fugindo da ditadura militar, volta a morar na França, sua terra natal. Lá trabalha na revista Métal Hurlant, a mais importante publicação francesa voltada aos quadrinhos. Seus colegas de trabalho eram nada menos que Moebius, Enri Bilal e Richard Corben. Nos anos oitenta volta ao Brasil, onde publica nas revistas Inter-Quadrinhos e na ótima Monga – A Mulher Gorila, que infelizmente teve um único número. É de lá que retirei A Notre Image postado abaixo. Nessa história nada faz lembrar os primeiros trabalhos, como O Careca, que trazia forte influencia de Jack Kirby. O que nota-se é um “sotaque” do quadrinho europeu, como não poderia deixar de ser, visto sua origem e formação profissional. Segundo a Wikipédia, “em 1989, ganhou o prêmio de melhor desenhista nacional da primeira edição do Troféu HQ Mix. No ano seguinte, uma exposição sobre seu trabalho apresentada no Museu da Imagem e do Som ganhou o Troféu HQ Mix de melhor exposição”. Faleceu em 2011, aos 65 anos.








domingo, 25 de dezembro de 2016

Capitão 7


Acervo Garatuja













Ele foi o primeiro super-herói brasileiro da televisão e um dos grandes fenômenos televisivos de todos os tempos, batendo sem dó em muitos heróis americanos. Mistura de Capitão Marvel com Super Homem, o nome veio do próprio canal onde era exibido o seriado: A TV Record - Canal 7. O sucesso foi tanto que os capítulos passaram a ser diários, permanecendo no ar de 1954 a 1966. O personagem narra às aventuras de Carlos, o menino que ganha poderes de um alienígena e, adulto, passa a enfrentar criminosos da Terra e do espaço. Criado e interpretado pelo ator Ayres Campos, o herói foi um sucesso na televisão graças à campanha promocional que incluía produtos e marcas licenciadas. Tinha até fã-clube (dizem que o primeiro da televisão brasileira) e o Clube do Capitão 7, onde as crianças juntavam as tampinhas do Leite Vigor para se tornar associado.
Pena que quase nada sobrou desse tempo. Os primeiros seriados eram ao vivo, e mais tarde, com a chegada do VideoTape passaram a ser gravados antes da transmissão, mas é bom lembrar que o VideoTape era caro e não havia a intenção de  guardá-lo como registro. Talvez os seriados que sobraram, assim como boa parte do acervo da TV Record, tenham sidos queimados no incêndio que ocorreu na emissora em 1966. Reza a lenda que sobraram alguns registros do seriado guardados pelo próprio Ayres Campos, já falecido. Anos depois de sua estréia na televisão o Capitão 7 surge também na história em quadrinhos publicada pela editora Continental/Outubro. O primeiro número saiu em 1959. Lá o personagem ganhou novos poderes graças a Jaime Cortez. Os argumentos eram de Gedeone Malagola, Helena Fonseca e Hélio Porto e os desenhos, em sua maioria, de Getúlio Delfin, mas desenhava também o próprio Gedeone, Juarez Odilon, Osvaldo Talo e outros. Só feras. Destaque são as capas primorosas desenhadas pelo Jayme Cortez em muitas edições. A história em quadrinhos também foi um sucesso. Publicou cerca de quarenta números e dois almanaques, hoje raridades. O fim da publicação foi melancólico: “Quando a D.C. exigiu que a Capitão 7 trocasse o peito azul pelo verde tropical, para não atrapalhar as vendas do Super-homem, Ayres não aceitou e peitou. "Isso não," protestou indignado, "meu herói foi muito mais herói do que qualquer "Super-homem"! Os norte-americanos não puderam com o irredutível Ayres, mas a editora Abril, sim, porque o Capitão 7 era publicado pela editora Outubro, acontece que a Abril registrou o nome de todos os meses do ano, processando a editora, que fechou as portas em 1964, e não pode mais pagar os direitos do personagem.”* Abaixo a história Capitão 7 contra os homens de Cristal, desenhado pelo Getúlio Delfin

*Rod Gonzalez no blog Quadros ao Vivo.