quinta-feira, 15 de julho de 2021

Como foi a Exposição de História em Quadrinhos

 





De 26 de julho a 26 de agosto aconteceu a Exposição de História em Quadrinhos do projeto Garatuja – 35 Anos de Arte e Cultura em Atibaia. Na abertura, dia 26 de junho, compareceram cerca de cinquenta pessoas na sede do Instituto Garatuja onde aconteceu a confraternização entre convidados, participantes das Oficinas e frequentadores da entidade, que se organizaram de forma comunitária nos “comes e bebes”.  Também nesse dia foi encartado o fanzine “Prelúdio para o Seu Zé”, de José Aguiar. O material foi produzido durante a Residência Artística que o quadrinista curitibano realizou em março. O encarte reforçou a divulgação da exposição chamando a atenção dos leitores para o evento. Na exposição ficaram expostos diversos gibis do acervo do Instituto das décadas de cinquenta até setenta divididas em cinco temas. No primeiro expositor as revistas infantis como Mirim, Tico-tico, Tiquinho e outros. No segundo as revistas de terror como Cripta, O Estranho Mundo de Zé do Caixão, O Sobrenatural, O Squife e outros. No terceiro expositor foram reservados as publicações com produções nacionais como Bola de Fogo, Vigilante Rodoviário, Capitão Atlas, Capitão Sete, etc. No quarto, os clássicos como Flash Gordon, Globo Juvenil, Raio Vermelho, O Gury, Lobinho. Por fim, o quinto expositor com os originais produzidos pelos participantes da oficina de quadrinhos, além do material de quadrinistas de Atibaia e da cidade Bragança Paulista, cidade que abriga forte atuação na área. Nas paredes a exposição trazia alguns desenhos originais utilizados nas capas de gibis, assim como fotolitos originais de revistas americanas. Tinha ainda uma série de pranchas, também originais, assinadas pelo grande artista argentino Alberto Breccia, além de painéis didáticos sobre o desenvolvimento da linguagem e sua produção. A escola Terra Brasil participou intensamente da programação, trazendo seus alunos em pequenos grupos. Nessas visitas aconteciam um bate papo sobre a história dos quadrinhos, a importância de conhecer o que já foi produzido, o futuro dos quadrinhos e sua aplicação na escola. Também foram exibimos vídeos sobre o tema. Cerca de 250 pessoas visitaram a exposição que foi um grande sucesso. Acima a divulgação realizada pelo amigo Edício Monteiro, que mantém o canal Quadrinhos World.






















































Instituto Garatuja realizou workshop com o quadrinista Aluísio Cervelle.


No centro Aluísio Cervelle ao lado da esposa e desenhista Érica Yamaguchi

Em 2019 o Instituto Garatuja realizou mais um evento voltado à linguagem dos quadrinhos. Dessa vez recebemos o desenhista Aluísio Cervelle, e o workshop “A Produção de HQs”, onde ele passou suas experiências como realizador,  ilustrador e quadrinista. Foi uma ótima oportunidade de conhecer e trocar ideia com um artista que vive profissionalmente do desenho e de forma independente. O processo de criação, realização, divulgação e distribuição foram alguns dos temas abordados nesse encontro. O workshop foi gratuito e voltado a todos os interessados, sem limites de idade.  Aluísio Cervelle Santos é Bacharel em Programação Visual pela Universidade Estadual Paulista. Entre suas publicações estão Zone Lords #1, de 2017, DROPDEAD, de 2015, (Prêmio PROAC), QUAD 1, 2 e 3 (antologia). Além de ter trabalhado com ilustração no Brasil e no exterior. Recebeu o Prêmio HQMIX de Melhor Publicação de Grupo “QUAD 2”, de 2014, além do Prêmio Abril de Jornalismo Melhor Infográfico, 2010 - Melhor Criação de Personagem MOJIZU (EUA). Com os artistas Eduardo Schaal, Diego Sanches e Eduardo Ferigato, Aluísio integra o coletivo Quad Comics, que publica uma série de quadrinhos de ficção cientifica independente. Esse workshop integrou o Projeto “Garatuja – 35 anos de Arte e Cultura em Atibaia”, realização do Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e Instituto de Arte e Cultura Garatuja, através do PROAC.

Os Quadrinhos na Região Bragantina





















Em 1996 aconteceu em Atibaia a primeira tentativa de fomentar a linguagem das histórias em quadrinhos no município. Em junho daquele ano ocorreu a Exposição Itinerante História da História em Quadrinhos, organizada por Álvaro de Moya, através da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo e da Prefeitura de Atibaia. Saiba mais aqui. Na programação, exposição, oficinas e filmes temáticos comentados. O próprio Álvaro de Moya esteve presente, realizando a palestra de abertura da exposição. Na ocasião foi disponibilizado um espaço da Biblioteca Unidade II, do Alvinópolis, para a criação da primeira Gibiteca do município, festejada com muita pompa, com todos os salamaleques políticos de praxe, mas que nunca saiu do papel após a mudança politica acorrida pouco tempo depois. Sem política cultural, infelizmente, essa será a sina de tudo que for produzido na cultura.

Cartaz e programa de 1996
A despeito disso, a linguagem sobrevive, graças a uma ou outra iniciativa de artistas esparsos que produzem pelo amor a linguagem e necessidade expressiva. Um bom exemplo é trabalho desenvolvido pelo Edício Monteiro, de Atibaia, que mantém o canal no Youtube Quadrinhos World, com mais de sete mil inscritos. Veja aqui. Em vídeos semanais o canal comenta e divulga muita informação sobre a linguagem quadrinizada. Poderia citar outros, como a trabalho do Ju Tuck, do Mauricio Clemente Coutrim, etc.  Ao formular o projeto Garatuja-35 Anos de Arte e Cultura em Atibaia para o edital Proac 2018, inclui a linguagem dos quadrinhos, entendendo ser importante valorizar a linguagem na cidade e região, dando visibilidade aos inúmeros aficionados espalhados pela região. A exposição de História em quadrinhos realizada em 2019, na sede do Garatuja, fez parte desse projeto. Nela dediquei uma parte do espaço para o material produzido em Atibaia e região. Convidei então o amigo Merka (Hilton Mercadante) para escrever o texto que segue. O texto integrou a exposição.  

QUADRINHOS BRAGANTINOS
No início dos anos 90, quando saí da capital para vir morar em Bragança Paulista, confesso que cheguei com aquela visão de que fora de São Paulo não havia vida cultural. Aos poucos a realidade foi me mostrando que não era bem assim...
Logo depois de minha mudança comecei a lecionar no saudoso curso de Arte da FESB e tomei contato com uma série de pessoas fantásticas, que desenvolviam as mais variadas e ousadas linguagens artísticas. Entre essas linguagens todas apareceu a turma dos quadrinhos. Quem me apresentou essa moçada foi o Charles Paixão, meu ex-aluno e atual amigo. E percebi que meu trabalho isolado de ilustrador na minha prancheta encontrava eco nos traços e gostos de gente dez, quinze ou vinte anos mais nova.
Foi aí que conheci o André, Alessandro, Roger, Guto, etc. Artistas que produziam um material menos colonizado culturalmente, sem querer ser o novo Frank Miller ou Neil Gaiman. E outros que apesar de não produzirem HQ tinham um trabalho que dialogava com essa linguagem, Betão e Mambera, por exemplo. E fiquei sabendo que havia um fanzine, O Lingüiça Bragantina (com trema ainda), em que toda essa moçada se juntava para mostrar seu trabalho e que contava com a raça do Charles e do Roger pra ser publicado.
Apesar de não ter periodicidade exata e ser publicado de maneira heróica, esse zine resume bem o trabalho de artistas gráficos da região que se dedicam não só aos quadrinhos como também à ilustração. E novos nomes surgem nessa área, parece que os ares da região bragantina estimulam o uso de um bloco de desenho e canetas nanquim. Bia Raposo, Luana, Amanda, Marina Tasca, Hélio, as irmãs Navarro, Alice, Guilherme de Atibaia... a lista é grande. Gente com gás novo e mente aberta, tudo que precisamos em qualquer área, ainda mais nos tempos atuais...
Evoé ao Lingüiça e artistas que o produzem!
Resistimos com traços e balões.

Hilton Mercadante, Merka é professor de arte e artista gráfico. Autor de “Crônicas da Pindahyba”, “Assim nasce um bicho-papão” e “Filhos da Mata”