sábado, 18 de fevereiro de 2012

Udigrudi 1

Balão e Boca

Nos finais dos anos setenta eu morava em São Paulo e uma de minhas manias era entrar em sebos e livrarias atrás de curiosidades. Coisas que me chamassem atenção e que pudesse comprar com meus parcos recursos. Na época não trabalhava, e a grana que meu pai me dava era somente para pagar os estudos. Economizava ao máximo e quando sobrava algum torrava no meu sonho de consumo: gibis. Próximo a Avenida Paulista havia uma pequena livraria na Avenida Consolação. Nela o dono montou um cantinho só com publicações independentes que incluíam além dos gibis, livros e objetos. Acho que tinha muita porcaria, mas no meio acabei comprando coisas muito legais e que hoje são raridades, como as revistas Balão e Boca. Balão foi à primeira revista underground de história em quadrinhos editada no Brasil. O termo virou udugrudi e depois dela muitas outras vieram. Essas duas revistas, e algumas outras publicações marginais do acervo do Garatuja, têm em comum sua origem nos meios estudantis e uma visível tensão política própria da época. Acho muito bacana, principalmente por que eram feitas por jovens, moçada mesmo, que buscavam seus espaços de expressão. Muitos deles estão no meio artístico até hoje como Paulo Caruso, Laerte, e Luis Gê do Balão e Flávio Del Carlo e Dagomir Marquezi do Boca. Alias gostava muito do trabalho deles. Tenho até hoje o livro Auika! de Dagomir Marquezi e me lembro das animações Paulicéia e Tzubra-Tzuma de Flávio Del Carlo que assisti muitas vezes, na época em que ajudava na projeção no Cineclube Inter-Ação de Atibaia, na década de oitenta. A revista Balão número 9, a única do acervo e a ultima a ser publicada, traz a história do Capitão Bandeira, com texto de Rafik e desenhos de Paulo Caruso, que mais tarde ganhou uma edição luxuosa da L&PM, em 1983, além das histórias Roupas de Laerte, A Biografia Autorizada de Hedibiombo do Beabá de Xalberto e a ótima Ano Santo – ano da mulher, de Luis Gê, que também foi republicada em Quadrinhos em Fúria, do mesmo autor pela Circo editorial em 1984. Na Boca, além dos colaboradores já citados, havia Lu Gomes, Laert Sarrhumor do Língua de Trapo e Nando Reis dos Titãs, que na época tinha 14 anos. Entre cartons, histórias em quadrinhos, textos e fotonovelas (O Grotão), o Boca trouxe ainda hqs de Angola, Cuba e uma entrevista com o cartunista argentino Fontanarrosa, falecido em 2007.  

2 comentários:

  1. Olá, não encontrei um e-mail para fazer contato com vocês. Poderiam por favor me passar um? Obrigada! (Jessica)

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